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O dissidente russo e Prêmio Nobel de literatura de 1970, Alexander Soljenitzin, cujas obras contém vigorosas críticas ao regime soviético e a reivindicação à retomada dos valores espirituais da Rússia, destruídos pelos comunistas, em 1974 exilou-se na Suíça, lá publicando o seu livro "Arquipélago Gulag". Nele denunciou a opressão do regime soviético nos campos de trabalhos forçados. Essa obra foi traduzida em várias línguas, tornando-se um dos maiores "best sellers" mundiais.
Juntamente com outros intelectuais russos, também calejados na luta contra o totalitarismo, Soljenitzin, advertia sobre o terror vermelho, em uma coletânea de ensaios, jamais editada em Português, intitulada "Vozes sob os escombros". Além de instigantes reflexões sobre o bolchevismo que a partir da Revolução Russa de 1917 vinha destroçando a alma russa, esses ensaios continham um candente apelo ao mundo ocidental para que refletisse sobre a sua culpabilidade pelo avanço do comunismo nos quatro cantos do mundo, considerando-se que a União Soviética se tornara o pólo irradiador da práxis marxista-leninista mundo afora e para cujas bases doutrinárias, muito contribuíram os ocidentais.
Sentindo que todas as suas denuncias e advertências sobre os horrores soviéticos eram palavras que se perdiam nos fluídos ventos da alienação humana, em outro livro, "O carvalho e o cervo", Soljenitzin lamentou que o seu Arquipélago Gulag e mais uma infinidade de obras, versando sobre o sofrimento de sua Pátria sob o tacão comunista, traduzidas e publicadas em vários idiomas, tivessem como resposta o desprezo de vários povos do Ocidente que continuavam a se deixar intoxicar pelas falácias marxistas.
Convenhamos que esse lamento de Soljenitzin soa como que dizendo às democracias que a falta de uma reação dos seus cidadãos à escalada comunista fortificava os adversários da liberdade e deixava a pista livre para que estes destruíssem os fundamentos da civilização Ocidental.
Por oportuno, cabe aqui um parêntesis, para convidarmos os prezados leitores para um atento passeio na História, a fim de conferirmos que a doutrina marxista foi uma resultante do pensamento ocidental que se afastou das tradições da Cristandade, solapadas pelo humanismo renascentista, pelo racionalismo, pelo subjetivismo filosófico das idéias de Rousseau e Kant e pelo idealismo de Hegel, ao qual se filiavam as concepções do Estado totalitário. Por outro lado, é inegável a grande influência, nas concepções marxistas, dos conceitos dos economistas ingleses David Ricardo e Adam Smith, da sociologia francesa de Saint-Simon e Proudhon que, juntamente com a filosofia alemã de Hegel e Feuerbach, alicerçaram a maior fraude política, econômica e social do século XX.
Nas "Vozes sob os escombros", os ensaístas também mostravam que mesmo possuindo superioridade bélica, o Ocidente vinha sendo, paulatinamente, desarmado moral e espiritualmente pelo credo vermelho, sucumbindo ao mundo totalitário em razão do despreparo de sua gente, principalmente de seus líderes e dirigentes, os quais não estavam intelectual e ideologicamente armados para enfrentar a religião marxista. E, por isso mesmo, facilmente deixavam-se contaminar pelo vírus marxista que os impulsionava a tomar decisões contrárias aos melhores interesses de suas nações.
É ainda nos alfarrábios da História que se pode ver o dedo ocidental na implantação do comunismo na Rússia. Desta feita, pela mão do Kaiser alemão Guilherme II que, para libertar o seu País do inimigo na frente oriental, despachou num trem blindado para a Rússia o revolucionário Lenine, responsável pela Revolução de Outubro de 1917.
Foram os EUA e a Grã-Bretanha, em Teerã e Yalta, que abriram as portas da Europa Central e Oriental para o bolchevismo lá estender as suas garras e se consolidar, ao permitirem a Stalin anexar os Estados bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia) e o leste da Polônia, apesar das antecipadas advertências de alguns dos seus vitoriosos generais de que, vencido o totalitarismo nazista, era indispensável não esmorecer, combatendo-se, também, o ameaçador totalitarismo comunista. Os conselhos desses zelosos profissionais da guerra não foram ouvidos, prevalecendo a oportunista conveniência política.
Por estas e outras é que faz sentido a conhecida assertiva que diz que o grande estadista, ao tomar decisões, pensa no futuro do seu País, enquanto o político só enxerga adiante do seu nariz as próximas eleições e se questionado, busca amparo nas nunca bem definidas razões de Estado, para justificar a sua insensatez ou, até mesmo, as suas convicções, "in pectore".
A propósito de tais convicções permito-me trazer a respeitável palavra de Friedrich August von Hayek - Premio Nobel de Economia em 1974 - que no seu livro "O caminho da servidão", mostrou à exaustão, como as democracias vão sendo arrastadas, sem perceber, para o totalitarismo que combateram de armas na mão e se espalhou pelas "democracias populares", em razão das democracias sucumbentes já estarem com o senso comum da sua gente, condicionado pelos falsos princípios que, de modo sutil, lhes foram inculcados.
Com o auxílio do "Estudo sobre o comunismo", de autoria de John Edgar Hoover, Diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), de 1924 até 1972, abaixo apresento um significativo depoimento, transcrito nessa obra: o de Aleksandr Fiodorovitch Kerenski que por três meses governou a Rússia, logo após a deposição do czar, precedendo a ascensão ao poder dos bolcheviques, liderados por Lenine:
"Não podemos culpar o povo russo por ter caído na armadilha bolchevista, pois, naquela ocasião, o mundo não tinha experiência com as técnicas totalitárias modernas. Mas os milhões de operários, camponeses e intelectuais do Ocidente democrático, a quem oferecem agora a isca, não têm desculpas. Sirva-lhes de grande aviso a terrível experiência sofrida pela minha terra natal".
A imagem e semelhança das vozes de testemunhas da tragédia russa que emergiram dos escombros da sua terra natal, no Brasil, de uns bons tempos para cá, experientes e insuspeitas vozes nacionais vêm alertando os seus alienados e/ou desinformados concidadãos, a respeito da ameaça que paira sobre suas cabeças, isto é: a sutil destruição dos pilares democráticos, realizada de modo insidioso por aqueles que, tradicionalmente, sempre se dedicaram com tenacidade a fomentar a luta de classes - sob as mais diversificadas máscaras -, criando impasses e semeando o ódio fratricida, a fim de esfacelar a coesão social e as instituições vigentes para, em seguida, apresentar o seu modelo, como a única alternativa salvadora.
Agindo de modo coerente com a desfaçatez que sempre pautou a sua conduta, mas que poucos se lembram e muitos sequer buscam conhecer, tais malfeitores, que ingênuos e despreparados brasileiros, ultimamente vêm escolhendo para governá-los, estão levando o nosso País para o precipício socialista. E precipício porque onde foi adotado o socialismo, a igualdade foi um sofisma, emperrou-se o desenvolvimento, massificou-se a inteligência, obturou-se a capacidade perceptiva e, principalmente, aniquilou-se a liberdade, entendida como a faculdade que cada um deve ter para agir livremente numa sociedade organizada, segundo o dever de não ultrapassar os limites da Lei e das normas da sadia convivência social.
Assim, pelo mesmo motivo que levou Soljenitzin à lamentação, peço vênia para abaixo, voltar a citá-lo, conclamando os meus leitores para que em reflexões de "mea culpa", vistam ou não a carapuça, em face do que foi acima exposto e de um excerto de um discurso, que em tradução livre se segue, proferido por esse corajoso russo, numa Central Sindical norte-americana:
"Os senhores têm que entender a natureza do comunismo. Todos os seus ensinamentos são no sentido de que deve ser considerado um tolo, todo aquele que não toma o que está à sua frente. Se se pode tomar, não se deve hesitar. Se se pode atacar, que se ataque. Mas se há uma sólida parede, é necessário retroceder. Os comunistas só respeitam a firmeza. Desprezam e riem dos fracos e se enchem de júbilo ante os despreparados. Pela nossa experiência, posso dizer que só com firmeza e o conhecimento das manhas dos comunistas, os senhores poderão enfrentá-los. E a propósito disto, temos muitos exemplos históricos para mostrar. Vejam a pequena Finlândia que em 1938 com suas próprias forças resistiu aos ataques da Rússia. Lembrem-se de que os norte-americanos, em 1949, apoiaram e defenderam Berlim, utilizando apenas firmeza e tenacidade. Na Coréia em 1950, os norte-americanos resistiram aos comunistas. Também em 1962, os Estados Unidos, com inabalável firmeza, obrigaram os soviéticos a retirarem seus mísseis de Cuba. E não houve conflito mundial. Nós os dissidentes na União Soviética não temos armas, nem organização. Temos as mãos vazias, mas temos um coração que nos permitiu a firmeza com que defendemos os nossos direitos de cidadãos livres. Só graças a essa tenacidade de espírito é que resistimos. Se eu estou aqui diante dos senhores, não é graças à "deténte", nem à boa vontade dos comunistas, mas por causa da minha própria firmeza e do apoio tenaz que os senhores me têm proporcionado. Os comunistas sabiam que eu não cederia e, quando nada mais podiam fazer, retrocederam. Isto me foi ensinado pelas dificuldades que encontrei, na minha vivência com eles. Não quero citar muitos nomes porque, quando resolvemos uma questão com dois ou três nomes, significa que esquecemos outros e que os traímos. Por isso usarei números. Existem dezenas de milhares de prisioneiros políticos na Rússia e de acordo com os cálculos de especialistas, sete mil pessoas estão em asilos de loucos sob confinamento obrigatório. Mas vamos usar Vladimir Bukovski como exemplo.
Disseram-lhe: Vai embora, vai para o Ocidente e cala a boca. E este jovem, à beira da morte, respondeu: - Não, não irei. Escrevi sobre as pessoas que vocês internaram em asilos de loucos. Se elas forem libertadas eu irei para o Ocidente.
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