Barro negro de Bisalhães.


"Vai morrer" esta arte, os mais novos não lhe pegam, e essa certeza deixa Manuel Martins um pouco sombrio. Aproxima-se assim da tez do barro negro que vai moldando, à vista de quem queira comprar, no desvio de Vila Real para a aldeia de Bisalhães, onde vive e aprendeu o mister. Deita um olhar de soslaio para a venda do lado, a poucos metros, "é minha vizinha, não é da família", e nesse reconhecimento passa a mágoa que tem pela concorrência desleal: "A cada carro que pára ela vai lá e abre a porta para me roubar os clientes".

Estas coisas são mesmo assim, "o teu inimigo é o colega de ofício", e Manuel Martins vai despachando uma bucha de carne e um copo de tinto enquanto revela os caminhos deste barro, também tinto. É picado no armazém, peneirado e amassado, quando está seco é amarelo. O que dá lhe dá o tom negro, ou melhor, cinzento, é uma mistura com musgo e terra preta, tradição que o povo de Bisalhães segue há muitos séculos, os suficientes para firmar a tradição. Manuel garante que os seus fornos vão aos 900 graus, "já foram medir a temperatura", e tem orgulho nessa certeza.

Aqui há quatro barracas a oferecer barro negro, todas da Câmara Municipal de Vila Real, e "quando deixarmos isto entregamos a chave". A filha é subgerente de conta de um banco e também "não morre à fome por causa disso". Mas quem inventou este conceito de venda à beira da estrada, garante o artesão, "foi o meu sogro que Deus tem, deviam fazer-lhe uma estátua", porque "andávamos aí de aldeia em aldeia até que ele entregou a ideia à filha, que é hoje a minha Ermelinda".

Créditos firmados, Manuel mostra o que tem para oferecer, "uma panela tripé a 35 euros, aquela maiorzinha, o alguidar para o arroz de forno", em vários tamanhos. Um jarrão grande chega aos 50 euros, há castiçais negros perfeitos nas suas formas. E é o artesão que revela: "Já tive aqui dias em que ganhei cem contos".

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